RETALHOS DAS GENTES DE CAÇARELHOS

Um certo dia, em Vila Chã da Ribeira, os tios Joaquim Ventura, Luís Preto e José Luís Garcia, andavam a trabalhar em casa da tia Aida a fazer o assento e roda do pisão no canal do moinho para pisar o pardo.
A tia Aida tinha o poleiro das pitas precisamente em cima do local onde os três obreiros estavam a fazer o pisão.
Entretanto, o galo, faz uma bruta galinhaça em cima da ferramenta dos carpinteiros!
O tio Joaquim Ventura não gostou e, com a régua deu uma mocada na cabeça do galo, caindo redondinho no chão e em cima da ferramenta.
Entretanto os três, fartos de ao almoço só comerem pão e batatas cozidas, (pois a carne e o bacalhau estavam no soto!)
Se bem o pensaram, melhor o fizeram. Pegaram no galo, e foram levá-lo à tia Aida dizendo:
- Tomai, este galo, caiu agora mesmo do poleiro para cima da roda do pisão!... Então como morreu perguntou ela!
-Morreu do mal da régua! Respondeu o tio Luís Preto!...Em Caçarelhos tem morrido muitas pitas com esse mal e chamam-lhe o mal da régua!...
A tia Aida muito inocente, acreditou e preparava-se para enterrar o galo. Contudo, os três, com uma grande descontracção disseram:
- Não tia Aida, não o enterre, nós comemo-lo, pois os ciganos também os comem e eles não morrem por comer as pitas e porcos que morrem com a malina.
Convencida na inocência a tia Aida acreditou e, então fez-lhe o almoço, mas desta vez com carne do galo que morreu do mal da régua, acompanhado com batatas cozidas.

N.B. Este relato foi do tio Horácio, que por vezes também fazia parte do grupo de carpinteiros e que atesta esta história ser verídica.
Infelismente os três intervenientes já nos deixaram, mas felizmente, e oxalá ainda por muitos anos, pessoas que nos vão relatando estas histórias, que a todos com saudade nos fazem lembrar nossos antepassados. Obrigado tio Horácio Vicente pelo seu testemunho.

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