O DIA A DIA DE UM AGRICULTOR, CRIADOR DE GADO BOVINO DA FAMOSA “RAÇA MIRANDESA”


O DIA A DIA DE UM AGRICULTOR, CRIADOR DE GADO BOVINO DA FAMOSA “RAÇA MIRANDESA”

Seis, sete horas da matina! Ala que se faz tarde! Esta é a preocupação constante que acompanha Arlindo Formariz, agricultor e produtor de gado bovino de raça mirandesa à qual dedica toda a sua vida, carrega ainda a sempre árdua duma presidência, a Presidência da Associação de Produtores de Carne Mirandesa.
No gozo das minhas férias tive o privilégio de perto o acompanhar na lida que é diária. Bem cedo, ainda a claridade era ténue, cerca das seis horas da matina, para fugir ao sol abrasador, tudo está pronto para a árdua tarefa da apanha das batatas, tudo preparado ao pormenor. A batata não quer técnicas evoluídas, quer a secular técnica. O burrico, a vaquita ou a mula! Desta vez a exceção sobrepôs-se e o cavalito “chico” ainda novato naquelas lides, foram necessárias duas pessoas para que o cavalito cumprisse o exigido.
Arlindo segura a rabiça do bonito arado rachado feito a preceito e à medida do “chico”, o  filho  Paulo segura pela rédea e cabeçada e indica o suco por onde o “chico” deve seguir, e lá vão eles, suco sim suco não "sulco ou rego", ao mesmo tempo que Paulo vai acarinhando o novato “chico” que se esmerou por cumprir o que lhe era exigido.
Ao fim das cerca de duas horas os cerca de uma dúzia de apanhadores e apanhadeiras que apanharam uns bons quilitos que encheu um atrelado "reboque" de trator de bonita e graúda batata.
Recolhidas as batatas em casa, previamente escolhidas (selecionadas) para comer, semear e ou para os animais, nada se deita fora.
Seguiu-se uma pequena pausa. Eram dez horas da manhã e de novo o Ala! Que se faz tarde. É necessário alimentar os animais. São cerca de cento e quarenta cabeças de gado bovino da “Raça Mirandesa” o tempo não para e a machada de outrora é substituída por motosserra e Arlindo de motosserra em punho sobe aos freixos cortando três ou quatro ramos em cada Árvore, ficando assim espalhados pelo lameiro onde os animais passam parte do dia comendo aquela natural e soco lenta folhagem.
Meio dia, são horas de almoço, Alindo e  esposa Arlete, filhos Paulo e Gil, abandonam o estábulo e vão até casa, enquanto Arlete  trata da confeção do almoço, Arlindo, dá uma escapadinha até ao café, toma uma bebida “aperitivo” dá uma de conversa com os amigos e regressa a casa à procura de almoço. Depois deste “dorme a correr” uma pequena sesta.
São dezasseis horas, de novo o Ala! que se faz tarde, é necessário voltar ao estábulo para ver se os animais estão bem! Porém, é obrigatória nova passagem pelo café, e de novo meia de conversa, mais um cafezinho ou outra bebida e lá vai Arlindo e os filhos Paulo e Gil a caminho dos animais que os esperam.
De novo a azáfama de voltar a dar de comer ao gado, comida esta, previamente ceifada na horta no dia anterior e transportada para o estábulo acondicionada da melhor forma. “Fazendo querer aos animais” que estão a comer verdura retirada por eles próprios da terra, esta engenhosa manobra consiste em distribuir por uma vasta zona de lavrado  uma porção considerável de milho (planta) ou erva forragem, que os animais ao serem soltos e encaminhados para o local se apressam a dizimar aquela verdura previamente colocada. Este dedicado trabalho é feito pelo Arlindo e  filhos Paulo e Gil, sempre debaixo do olhar atento do ancião pai e avô Sr. José Abílio Formariz que, à sombra dum carvalho, bem lá no alto, sentado na fraga, apoiado nas duas moletas, observa com muita saudade e ternura todos os movimentos do filho, netos e animais. Adivinhando eu o pensamento dele! (Bem diferente do meu tempo 40/50 anos atrás). Cai a noite! Gado acomodado, este recolhe ao estábulo, onde pernoitam comendo o que na manjedoura lhe foi colocado, palha de trigo, centeio ou aveia até ao dia seguinte que continuará a mesma azáfama do dia à dia.
Para toda esta família de Caçarelhos, Sr. José  Abílio Formariz e esposa Isabel Mondragão, Arlindo Formariz esposa Arlete, filhos Paulo e Gil formulo votos de saúde, muitos anos de vida, e tudo de bom. Pedindo desculpa por este meu abuso e invasão da vossa privacidade, reconhecendo eu que é de toda a justiça esta homenagem para todos vocês. Um Abraço.
José Ventura