Numa recente deslocação a acompanhar o meu filho a Podence "Macedo de Cavaleiros" tive a honra e o previlégio de reviver com muita saudade aquele ritual que antigamente era bem querido pela mocidade de Caçarelhos. Assim, vou partilhar com os conterrâneos e todos quantos visitarem este blog momentos que estou certo irão gostar, recordando com saudade O ENTRUDO Entre o fim do Inverno e princípio da Primavera que aconteciam os rituais próprios do Carnaval. Rituais que ainda hoje tem grande implantação por todo o Planalto Mirandés, transportando através dos tempos, festas relacionadas com a Natureza e celebradas em honra do deus dos pastores e rebanhos. Rituais que são considerados por muitos como expurga-tórios dos demónios através do fogo, queimando em público tudo o que é velho, ligando os mascarados que nesses dias fazem judiarias a tudo e todos quantos se lhe atravessem no caminho, cometendo todos os excessos, daí a expressão popular ”é Carnaval, ninguém leva a mal”. Em terras do Planalto Mirandés, onde Caçarelhos está inserido , outrora havia dois ciclos festivos de grande significado para a mocidade (dia de Reis e Carnaval, conhecidas como festas solstíciais). Esta dava azo aos casamentos de Carnaval, e bem lá no alto da povoação, frente à igreja, de almude na mão a servir de megafone destorcendo a voz para não ser identificado, os moços mais entendidos neste ritual, faziam, daqueles namoricos escondidos de tudo e todos, ao bater da meia-noite começava então a festa de escárnio e mal dizer, turreavam-se os casamentos, noivos, dotes e padrinhos, explorando sempre pontos sensíveis das pessoas visadas, achincalhando-as com a atribuição aos respectivos noivo e noiva, padrinhos e dotes ridicularizando-os. Esta era uma acção com características satíricas que era aproveitada nesta ocasião proporcionando a crítica e ridicularização de tudo e todos e tudo era consentido e ninguém levava a mal. ERA ASSIM QUE A “TURREAR” SE COMEÇAVA O RITUAL DOS CASAMENTOS DE CARNAVAL 1.ª Voz - Palhas, alhas leva-as o vento! Coro - Oh, oh, oh… 1.ª Voz – Aqui se vai formar e ordenar um casamento! Coro - Oh, oh, oh… 1.ª Voz - E quem é que nós vamos casar? Coro – Tu o dirás! 1.ª Voz - Há-de ser, há-de ser, a Ana ………………………….., que mora na capela! Coro - Oh, oh, oh… 1.ª Voz - E quem é que nós havemos dar para marido? Coro – Tu o dirás! 1.ª Voz - Há-de ser, há-de ser, o Francisco …………………., que mora na fontázia! Coro - Oh, oh, oh… 1.ª Voz - E que nós havemos de dar de dote a ela? Coro – Tu o dirás! 1.ª Voz - Há-de ser, há-de ser, o tear, porque ela é uma boa tecedeira! Coro - Oh, oh, oh… 1.ª Voz - E que mais havemos de dar de dote a ele? Coro – Tu o dirás! 1.ª Voz - Há-de ser! Há-de ser! O lameiro de Bidoledo para que não saia um de cima do outro enquanto for Inverno! Coro - Oh, oh, oh… Estes eram momentos considerados de escape, em que publicamente tudo e a todos era dito, sem que resultasse qualquer sanção pelas palavras, gestos ou atitudes proferidas. Pena é que este ritual tenha caído, perdendo-se uma tradição de gerações.
Tradições da Mocidade “Juventude” de Caçarelhos Era uma obrigação dos moços recém-casados para com os rapazes solteiros da aldeia, e era pago, sensivelmente, entre os 15 e 30 dias após o casamento, nele apenas podiam participar os maiores de 20 anos, de chapéu, casaco e colarinho apertado, salvo quando o Sr. Juiz, excepcionalmente, decidisse em contrário. Dos actos e da disciplina e da disciplina do Paga-Vinho
O Paga-Vinho era presidido pelo “Juiz” da mocidade (eleito para presidir aos destinos da Mocidade “Juventude” pelo período de um ano) a quem competia dirigir os trabalhos do acto, e zelar pela disciplina e comportamento rigoroso dos participantes 1.O Sr. Juiz era assessorado por um Secretário e um Tesoureiro, (eleitos nos mesmos termos do número anterior), bem como por dois “escabeciantes”, competindo a estes a distribuição do vinho e dos cigarros. 2.A fim de dar início ao Paga–Vinho, e para que os participantes se pudessem preparar cuidadosamente, o Sr. Juiz batia as palmas por três vezes, com intervalos de cerca de um minuto. 3.À terceira e última série de palmas, todos os participantes no acto formavam em círculo à volta da “caixa”, do “bombo”, do vinho, do tabaco e do noivo, e deveriam ficar em posição de sentido, de chapéu na cabeça, casaco e colarinho devidamente apertados. 4.Depois do córrio “circulo” formado, apenas podiam entrar nele quem fosse autorizado pelo Juiz, a quem havia que pedir sempre autorização, nos termos seguintes: -- Dá-me licença Sr. Juiz que entre no córrio?. 5.Ao centro do referido córrio ficavam o Sr. Juiz, ladeado pelos Secretário e Tesoureiro, e dali dirigia os trabalhos. Os participantes apenas se podiam dirigir ao Juiz em caso de justificada necessidade, usando sempre o mais rigoroso respeito e obediência proferindo: -- Dá-me licença Sr. Juiz? 6.O Sr. Juiz nomeava então dois “escabeciantes”, de entre os participantes no acto, a quem incumbia a distribuição do vinho e dos cigarros. 7.De seguida, o Sr. Juiz percorria o córreo pela parte de dentro e nomeava (segredando-lhe ao ouvido) as três espias, a quem incumbia a observação do comportamento dos participantes, para efeitos de aplicação e pagamento de multas aos prevaricadores, as quais constituíam receitas para a Mocidade. 8.O montante das multas, era ditado pelo Sr. Juiz no início da sessão, depois de deliberar com o Secretário e o Tesoureiro. 9.O Sr. Juiz, ordenava aos “escabeciantes”, já munidos de uma caneca e um copo, para dar início à distribuição do vinho. 10.Antes de darem início à distribuição, os “escabeciantes”, pediam licença ao Sr. Juiz, nos termos seguintes: -- Dá licença Sr. Juiz que dê início à distribuição do vinho? 11.Nesta primeira distribuição, os participantes não podiam beber, mas apenas tocar com os lábios no copo; para o efeito, tiravam o chapéu deslocando-o até ao joelho e, antes de tocar nos lábios com o copo, davam a saudação dos noivos, nos termos seguintes: -- “À saúde do noivo e da noiva e da mais comunidade toda!” 12.Todos os procedimentos eram repetidos e aplicados à distribuição dos cigarros. 13.Findas estas duas rodadas, o Sr. Juiz interpelava os “espias” para denunciarem as infracções que tivessem presenciado. A cada infracção caberia uma multa, que devia ser paga de imediato. 14.A seguir o Sr. Juiz mandava destroçar o “córrio” para intervalo. 15. Volvidos cerca de dez minutos repetiam-se todos os procedimentos anteriores, sendo que, agora, na rodada do vinho, os participantes já podiam beber. 16.Findo o acto, o Sr. Juiz mandava destroçar, sendo que de tudo seria lavrada uma acta no Livro da Mocidade. NB: A Administração deste Blog agradece a cedência de direitos de autor deste documento a César Augusto Magalhães João (Ex-Juiz da Mocidade de Caçarelhos). E para que conste na história de Caçarelhos e perdure para as gerações vindouras faço esta publicação. José Ventura.
Pretende-se com este blog, criar laços de amizade, interajuda, divulgação de tudo quanto diga respeito a Caçarelhos,suas gentes, paisagens, eventos, monumentos, fotografias de nossos avós, pais, fillhos, etc.
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Para todos quantos gostam do som inigualável da gaita-de-foles, apresento neste Blog e porque de alguma forma Caçarelhos está ligado à Banda de Gaitas que em todos os locais onde actua deixa a sua marca de qualidade, como é este o caso aqui bem no centro de Lisboa em mais um concerto. Eis pois, para Caçarelhos e todos quantos visitarem este Blog!... a banda de Gaitas "RONCOS DO DIABO"